Desmonte ameaça grandes institutos de pesquisa no Brasil
Linhas de pesquisa já são cortadas em instituições fundamentais para o país
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OS IPs (Institutos Públicos de Pesquisa), que foram fundamentais no enfrentamento da pandemia da Covid-19 e estão na origem dos principais avanços da agricultura, da indústria e do conjunto da economia brasileira, vivem um processo de desmonte que ameaça toda a Ciência nacional.

O desmonte já interfere na execução de linhas de pesquisa do IZ (Instituto de Zootecnia), em Nova Odessa, além de centros de conhecimento que são referências nacionais na região de Campinas, como a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Unicamp (Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), IAC (Instituto Agronômico de Campinas), Instituto Biológico, Ital (Instituto de Tecnologia de Alimentos), Laboratório Adolfo Lutz e Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer. Ao todo, o Estado de São Paulo, mantém por volta de 60 unidades públicas de pesquisa.

“A APqC (Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo) vê com muita preocupação a situação em que se encontram os 17 IPs vinculados ao governo estadual. Nos últimos 18 meses foram extintos, sem justificativa, dois deles: a Sucen (Superintendência de Controle de Endemias) e o Instituto Florestal”, denuncia, em carta aberta, a pesquisadora científica do Instituto Butantan e presidente da APqC, Patrícia Bianca Clissa.

Patrícia lembra que a contribuição dos institutos para a superação de momentos de crise “está registrada na História”. “A mais recente continua fresca na memória: a sua atuação no enfrentamento da pandemia provocada pelo Sars-Cov-2, que levou o Estado de São Paulo a assumir o protagonismo na batalha contra o novo coronavírus”. 

O MCTP (Movimento pela Ciência e Tecnologia Pública), organização que reúne dezenas de entidades ligadas à pesquisa pública brasileira, vem denunciando desde 2015 o desmonte no Estado de São Paulo. “Os institutos de pesquisa ligados à Secretaria da Saúde do Estado, por exemplo, perderam 145 pesquisadores desde 2014. Há também cerca de 2,5 mil cargos vagos das carreiras de apoio à pesquisa (76% do quadro de funcionários), não preenchidos pela ausência de concursos. Já nos seis institutos de pesquisa ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, há, atualmente, 496 pesquisadores na ativa e 716 cargos vagos”, informa o MCTP. (Leia mais em: www.ctpublica.wordpress.com).

SEM VERBAS

De acordo com o MCTP, o orçamento do MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações) teve uma redução de 34% em 2021 se comparado a 2020, ano em que já sofrera uma perda de 15% em relação a 2019. O corte comprometeu um grande número de programas de investimento em ciência e tecnologia e ameaçou ainda mais a sobrevivência dos 16 institutos de pesquisa ligados diretamente ao Ministério.

Levantamento do Observatório do Conhecimento (www.observatoriodoconhecimento.org.br) sobre o orçamento das universidades, da pesquisa e da ciência e tecnologia públicas aponta que as perdas acumuladas com cortes orçamentários, desde 2015, chegaram a R$ 83 bilhões, em 2021, e podem chegar a R$ 100 bilhões até o final de 2022. 

“A valorização e o fortalecimento das empresas públicas do país são fundamentais para garantir à população brasileira serviços essenciais que jamais seriam realizados pela iniciativa privada, sobretudo à população de renda mais baixa”, avalia agrônomo e pesquisador Mário Urchei, presidente da Seção Sindical Campinas e Jaguariúna do SINPAF (Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário), que representa, entre outros, trabalhadores da Embrapa.

Mário lembra, entre outros, vários exemplos nas áreas da saúde (SUS, Anvisa), educação (escolas de ensino fundamental, médio e universidades), ciência e tecnologia (Embrapa, Fiocruz, INPE), acesso ao crédito e financiamento da casa própria (BNDES, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil), dentre outras. E finaliza: “Se é público é para todas e todos. Defenda as empresas públicas”.


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