Marlúcia Seixas
Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz)/Amazônia
O surgimento da Covid-19 e todo o contexto de pandemia que vive a humanidade acende o alerta para o possível aparecimento de outras epidemias emergentes e reemergentes que podem ocorrer devido às interferências que biomas brasileiros vêm sofrendo, como desmatamentos e destruição de ecossistemas.
Em artigo publicado recentemente na Genetics and Molecular Biology, pesquisadores destacam que a vulnerabilidade ambiental da Amazônia, diante de ações degradantes que o bioma vem sofrendo, é um risco à saúde das populações, especialmente quando traz a possibilidade de surgimento de novas doenças ou ainda o ressurgimento de doenças antigas, já conhecidas.
Intitulado Emerging complexities and rising omission: Contrasts among socio-ecological contexts of infectious diseases, research and policy in Brazil (em tradução livre: Complexidades emergentes e omissão crescente: contrastes entre contextos socioecológicos de doenças infecciosas, pesquisa e política no Brasil), o trabalho foi feito pelos pesquisadores Leandro Luiz Giatti, Ricardo Agum Ribeiro, Alessandra Ferreira Dales Nava e Jutta Gutberlet.
Os cientistas, em sua análise, apontam dois eixos relevantes de problematização diante do contexto brasileiro: a necessidade de valorizar a interdisciplinaridade do conhecimento para se entender a emergência e para a adoção de ações diretas eficazes; e a necessidade de reflexão crítica e de ações de controle sobre o modelo de desenvolvimento predatório aos ecossistemas.
DEVASTAÇÃO E CAÇA
A pesquisadora Alessandra Nava, do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia), destaca dentre os principais fatores que podem contribuir para o surgimento de doenças, “o desmatamento envolvendo processos de fragmentação florestal e a conversão do uso da terra como, por exemplo, transformar um lugar que antes era uma floresta em uma mineradora, hidrelétrica ou plantação de soja ou pasto”. Ela complementa: “a caça de animais silvestres e comércio ilegal também são fatores que podem contribuir para o surgimento de novas doenças e ressurgimento de outras”.
Segundo ela, algumas medidas podem ser tomadas para se evitar uma nova tragédia na saúde pública, e essas providências passam pela adoção de novas condutas políticas. “Proteção aos nossos biomas, parar o processo de desmatamento, e caça comercial e esportiva. Reforçar os órgãos de proteção e ter o entendimento de que a floresta em pé presta serviços importantíssimos à viabilidade da vida no planeta”, alerta Alessandra.
O artigo foi publicado na Genetics and Molecular Biology, volume 44, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Os autores são de quatro instituições de ensino e pesquisa: USP, Instituto Federal de Rondônia, Fiocruz Amazônia e University of Victoria, BC, Canadá.
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