* Victor Chinaglia
As cidades são compostas por vários tecidos sociais que ocupam territórios bem definidos e nem sempre legalizados. Em Americana existem duas comunidades que têm algo em comum, a classe social e a ausência do Estado. São elas o Acampamento Roseli Nunes e a Favela do Zincão.
A primeira, localizada na região do Pós-Represa, não incomoda os olhos dos privilegiados, a não ser quando moradores ocupam a Câmara Municipal para pressionar pela aprovação de projetos de interesse popular. Já a segunda começa a incomodar, pois o que era uma franja da periferia ganhou visibilidade com a ampliação da Florindo Cibin.
O que era para ser uma área de recuo, destinada à acomodação provisória até a liberação de áreas dos programas habitacionais da década de 1990, tornou-se permanente apesar de sucessivas tentativas sem efeitos. Por receberem cobertura de zinco, a comunidade foi denominada de Zincão pela tradição popular. Hoje é a única favela com mais de uma centena de unidades habitacionais no município.
Se considerarmos que estamos na Região Metropolitana de Campinas em que a questão habitacional é um grave problema, Americana é exemplo de planejamento no setor. Mas esses dois casos não encontraram solução no ideário recente, cujo o objetivo final era entrega de unidades habitacionais com foco na redução do déficit habitacional.
NOVO TERRITÓRIO
O urbanismo produtivo consiste em incorporar elementos socioeconômicos e históricos das comunidades para compor o imaginário coletivo, quando se faz a fixação permanente em novo território. Implica em criar geração de renda, empreendedorismo econômico, atividades culturais e ambientais que não eliminam a identidade da comunidade originária.
Essas intervenções buscam tirar o foco exclusivo na unidade habitacional, carregada de interioridade no espaço privado e na propriedade individual, e ver a habitação como um amplo território riquíssimo em ações coletivas que incluem as complexas relações econômicas determinantes para as demais, sejam elas ambientais, culturais, religiosas, sociais e políticas.
A cidade é um organismo vivo cujo o sangue são as comunidades que devem ser atendidas pelo Estado, para a saúde e equilíbrio desse organismo.
*Victor Chinaglia é arquiteto-urbanista, conselheiro titular do CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) e diretor do Sasp (Sindicato de Arquitetos do Estado de São Paulo).
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