O óleo de uma planta conhecida milenarmente na Índia por suas propriedades curativas, e que nas últimas décadas tem sido alvo de um grande número de pesquisas e experiências realizadas no Brasil e ao redor do mundo, se consolida hoje como a grande aposta para solução de dois graves problemas da saúde pública no país: o combate ao mosquito da dengue e ao carrapato estrela transmissor da febre hemorrágica.
Trata-se do óleo extraído das amêndoas do Neem (ou Nim, a Azadirachta indica S. Juss), árvore originária da Índia que foi introduzida oficialmente no Brasil em 1986 pelo Iapar (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná), sediado em Londrina. Nos anos seguintes passou a ser estudada e cultivada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas) e por universidades e institutos de pesquisa de diferentes regiões do país. Mas só nas últimas décadas, com a ampliação de seu cultivo em larga escala nas regiões do Cerrado e da Amazônia, o óleo de Neem passou a ser empregado em escala mais ampla no Brasil.
Além das propriedades medicinais milenarmente incorporadas na medicina tradicional indiana e na moderna farmacopeia, pesquisas realizadas há cerca de 80 anos comprovam que as sementes e o óleo de Neem combatem mais de 200 espécies de insetos, pragas, baratas, traças e pulgões, entre outros.
No Brasil, a utilização do óleo como inseticida natural no combate de pragas já é aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e amplamente testado. O óleo tem sido utilizado em diversas regiões do país no controle pragas agrícolas e no controle de doenças e insetos do gado bovino em grandes criações, principalmente no Centro-oeste.
“Embora as experiências bem sucedidas de sua utilização no combate ao mosquito e à larva da dengue também se multipliquem por cidades do país, ele ainda é empregado bem abaixo do seu potencial”, avalia o químico Bruno Prado, da Fertineem Soluções Sustentáveis no Controle Ambiental de Pragas Urbanas, de Campinas, que produz e desenvolve produtos a partir do óleo de Neem. A Fertineem tem realizado com sucesso a utilização do óleo para o combate do mosquito da dengue em bairros e condomínios de várias regiões do Brasil.
NO AMBIENTE
Embora cultivado e utilizado desde tempos imemoriais na Índia, as pesquisas com rigor científico sobre a planta só começaram a partir de 1928, quando dois cientistas daquele país demonstraram que uma solução aquosa com frutos secos e moídos de Neem repeliram gafanhotos que infestavam o deserto.
Mas só em 1962, em pesquisas realizadas em Nova Delhi, capital da Índia, a sua importância para a agricultura passou a ser definitivamente comprovada. Pulverizações feitas em diversas espécies de plantas mostraram que os gafanhotos pousavam nestas plantas, mas se recusavam a come-las. E o efeito durava até três semanas após o tratamento, mostrando-se muito mais eficiente que os inseticidas químicos utilizados nas plantações próximas, nas quais, inclusive, gafanhotos só morriam após terem devorado as plantas.
A partir daí e ao longo das décadas, milhares de pesquisas foram realizadas com o Neem ao redor do mundo. As pesquisas comprovam a sua eficiência contra mais de duas centenas de pragas e mostram que seu efeito pesticida é tão eficiente como o efeito repelente.
O mais importante é que, desde então, nenhum estudo mostrou que o Neem tem qualquer efeito tóxico em animais de sangue quente, incluindo pássaros, peixes, minhocas e outros organismos do solo. Por essas propriedades, o Neem passou a integrar o programa Solo Vivo, da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral), de Campinas.
Nas proporções em que ele é diluído para emprego na lavoura e no combate a pragas como dengue e carrapato estrela, não afeta insetos que se alimentam de pólen, como abelhas, borboletas e outros. No caso das abelhas, vítimas em massa dos inseticidas sintéticos utilizados no fumacê do combate à dengue e na lavoura, já está amplamente provado que mesmo as aplicações de Neem diretamente contra elas não causa efeito nenhum.
No caso das minhocas, estudos demonstraram que o crescimento delas foi até maior quando se usou folhas ou torta da semente de Neem misturadas ao solo. Os estudos mostram também que as pragas e insetos combatidos não mostram resistência ao Neem, após a exposição seguida de dezenas de gerações. Assim, ao contrário do que ocorre com pesticidas sintéticos, não há necessidade de aumento de doses ou de mudança do produto, mesmo após longos períodos de utilização.
Uma ‘dádiva para a humanidade’, diz FAO
A FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), uma das organizações internacionais que incentiva a utilização da planta no mundo, chamou o Neem de “uma das maiores dádivas para a humanidade”. Na mesma direção, o Conselho Nacional de Pesquisas de Washington, EUA, considera o Neem “a árvore para resolver problemas globais”.
Essas avaliações vêm, principalmente, da sua grande capacidade de substituir pesticidas sintéticos, utilizados em larga escala na agricultura e no combate a pragas, e que hoje são uma das grandes fontes poluidoras do planeta. Até o momento, já foram catalogadas no mundo cerca de 2.400 plantas conhecidas por suas propriedades pesticidas. Mas somente o Neem oferece um controle efetivo para uma multiplicidade de insetos e pragas, sem afetar o meio ambiente.
Os pesticidas sintéticos, como os utilizados no caso da dengue, são letais também para insetos benéficos, como abelhas e borboletas polinizadores, e afetam drasticamente a saúde da população e em especial dos agentes que os aplicam.
NA SAÚDE
Além das sementes e do óleo, várias partes da árvore são utilizadas na Índia, há milênios, para uso medicinal. A ciência moderna já pesquisou e incorporou na farmacopeia um grande número de substância encontradas no Neem. Ele é eficaz contra certos fungos que afetam o ser humano e animais e também tem sido empregado no combate a doenças e redução de danos causados por bactérias e vírus.
Entre as diversas utilizações, o Neem está disponível hoje no Brasil na forma de cremes, óleo e pomadas. Alguns de seus benefícios são no combate a micoses na pele, cabelo e unhas, como pé-de-atleta, cândida, Salmonella e Staphylococus aureus, entre outros. Na forma de comprimidos, também já disponíveis no mercado brasileiro, é utilizado como anti-inflamatório, analgésico e antitérmico.
Na Índia e na África, pequenos galhos da árvore são utilizados como escovas de dente para prevenir doenças periodônticas. Algumas empresas europeias fabricam pastas dentais usando o Neem como um ingrediente ativo e elas têm sido muito eficazes na prevenção e cura de inflamações nas gengivas e nas doenças periodônticas.
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