Por que moradores da nossa região não separam os resíduos?
Manejo de resíduos sólidos ainda enfrenta muitas dificuldades em municípios do Consimares
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Por Mimo Ravagnani


A reciclagem é um tema crucial para a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente. No entanto, muitos brasileiros, incluindo os moradores da RMC (Região Metropolitana de Campinas), ainda não adotam a prática de separar resíduos recicláveis em casa. Uma pesquisa do Instituto Datafolha revelou diversas razões para esse comportamento, destacando a falta de infraestrutura, preguiça e desconhecimento como os principais obstáculos. Este artigo visa expandir essa discussão, abordando os desafios e soluções específicos para os municípios do Consimares (Consórcio Intermunicipal de Manejo de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Campinas).

Segundo a pesquisa do Datafolha, 71% dos brasileiros afirmam separar resíduos recicláveis em casa, enquanto 29% não o fazem. Entre aqueles que não separam resíduos, 42% alegam a ausência de serviço de coleta seletiva como principal razão. Outros 21% mencionam a preguiça, enquanto 18% dizem não ter informações suficientes sobre reciclagem. 

Esse cenário reflete bem a situação nos municípios do Consimares (Capivari, Elias Fausto, Hortolândia, Monte Mor, Nova Odessa, Santa Bárbara d´Oeste e Sumaré), onde a reciclagem ainda enfrenta grandes desafios, dentre eles, a ausência do serviço de coleta seletiva em algumas das cidades, a falta de sensibilização da população e a valorização dos materiais recicláveis.

Juntos, os sete municípios que formam o Consimares geram cerca de 700 toneladas de resíduos domiciliares urbanos por dia. Desse volume, a reciclagem é de apenas 4% do potencial. A principal barreira é a falta de infraestrutura adequada para a coleta seletiva. 

Além disso, muitos dos materiais recicláveis não possuem valor econômico, o que desmotiva tanto os catadores avulsos quanto as cooperativas de catadores de reciclagem.

Por exemplo, o grande volume de papelão que encontramos espalhados pelas ruas das cidades, apesar de separado pela população, não tem valor econômico na cadeia e acaba sendo rejeitado pelos profissionais da reciclagem.

Elisabeth Grimberg, coordenadora de projetos de resíduos sólidos e agroecologia do Instituto Pólis, argumenta que a ausência de serviços de coleta seletiva é um impedimento razoável para a participação na reciclagem. No Consimares, isso é especialmente relevante, pois a falta de sensibilização da população e a desvalorização dos recicláveis tornam a implementação de uma coleta seletiva eficiente um grande desafio.

Para vencer esses desafios, o Consórcio crio o Programa "Recicla Junto Consimares”, que inclui o Projeto “Recicla Mais”. O objetivo é aumentar a sensibilização da população e a porcentagem de reciclagem. O programa também visa apoiar as cooperativas e os catadores de recicláveis, através de recursos da cadeia de empresas que necessitam comprovar suas ações na logística reversa de embalagens em geral.

Dentre as principais iniciativas do programa estão campanhas de educação ambiental sobre a importância da reciclagem e como cada cidadão pode contribuir. O programa também fornece suporte financeiro e logístico às cooperativas de reciclagem e aos catadores. 

Além disso, investimentos significativos estão sendo feitos para melhorar a infraestrutura de coleta seletiva por meio da parceria com cooperativas, prefeituras e o setor privado. Em breve, Capivari, Elias Fausto, Monte Mor e Sumaré, cidades consorciadas que ainda não possuem coleta seletiva, passarão a oferecer o serviço.

O Recicla Junto também está desenvolvendo iniciativas para aumentar a valorização dos materiais recicláveis, incentivando a inovação e a criação de novos produtos a partir desses resíduos reaproveitáveis.

Com essas ações, o Consimares espera aumentar significativamente a adesão à separação de resíduos recicláveis. Uma meta que depende da união de todos: poder público, setor privado, cooperativas de catadores e da comunidade em geral.

Somente assim será possível construir uma economia circular mais eficiente e um futuro mais sustentável para todos na RMC e em todo o Brasil. E, quem sabe assim, “a preguiça, o desconhecimento, a falta de estrutura e de tempo” deixem de ser motivos para as pessoas não separarem os resíduos que elas produzem em casa.

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Mimo Ravagnani é engenheiro agrônomo especializado em Gestão de Resíduos e Empreendedorismo e Inovação Tecnológica nas Engenharias. Atua como superintendente do Consórcio Consimares.

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