‘The Webster’ nasce de protestos, mas alimenta a esperança e a paz
Quatro artistas jornalistas e designer se unem para um projeto colaborativo em defesa do meio ambiente
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O ritmo alucinante da devastação da Amazônia, a ameaça crescente aos povos originários e a intolerância religiosa. Esses temas perpassam o espírito dos quatro artistas que lançaram, no dia 17 de junho, o EP “The Webster”. Com improvisações livres, as músicas trazem paisagens sonoras complexas, entre cenários que vão de cantos dos indígenas guarani, sinos do Mosteiro de Montserrat, na Espanha, sons da natureza e instrumentos acústicos. O EP contém duas músicas, com distribuição pela Tratore nas plataformas de streaming. Também será lançada uma edição limitada em vinil transparente (compacto 7”).

O grupo colaborativo é formado pelos artistas e jornalistas Roger Marza, Nicolau Centola, André Borges e pelo designer e artista plástico William Hebling. Além da amizade que os liga há 22 anos, o projeto teve início quando André foi cobrir o Acampamento Terra Livre, em Brasília, em abril de 2022, para o jornal O Estado de S. Paulo. A manifestação, que reuniu mais de 200 etnias indígenas do País, teve como objetivo defender os direitos dos povos originários.

André gravou uma canção indígena do povo guarani, em ritual que incluía a benção de seus filhos. A partir dessa gravação, surgiu a ideia de produzir uma obra sonora. André adicionou uma suave melodia ao violão, e Roger criou um intrincado solo no sax, que segue em um crescendo até um complexo duelo em duas vozes. A faixa foi batizada de “Caboclo”, para simbolizar as entidades indígenas que se expressam na Umbanda e no Candomblé, com o intuito de mostrar a importância do respeito às religiões em um momento de forte intolerância.

A SEGUNDA

A segunda música, chamada de “Maria Padilha de Monteserrat”, faz alusão ao espírito da mulher livre e sedutora Maria Padilha, entidade mais recorrente na Umbanda, embora haja também o seu culto em terreiros de Candomblé. A partir de uma gravação dos sinos do Mosteiro devMonteserrat, próximo de Barcelona, Roger criou uma bela melodia ao sax.

O mosteiro abriga a imagem da Virgem Negra de Montserrat, padroeira da Catalunha. Entre os estudiosos do tema, o “avatar” da pomba-gira Maria Padilha ora se refere à mulher que foi amante e rainha de Dom Pedro I de Castela, na Espanha, ora à história da cigana presente na trama de “Carmen”, da ópera de Bizet.

A arte visual ficou a cargo de William Hebling que, coincidentemente desenvolvia uma série chamada “Pele de Imagem”, ou “Utupa Siki”, que se refere a um retrato na linguagem yanomami. William associou o livro “A queda do céu: Palavras de um xamã yanomami”, de Bruce Albert e Davi Kopenawa Yanomami às notícias de assassinatos de indígenas e devastação ambiental. A série é composta de onze figuras com rostos desenhados com folhas, lã, agulhas e tinta acrílica prateada. A tinta remete ao mercúrio usado nos garimpos ilegais que contaminam rios e terras indígenas. Foi o casamento perfeito com o som que os outros três estavam criando.

Todo o trabalho foi feito a distância: André em Brasília, Roger e Nicolau em São Paulo, e William produziu as artes em sintonia com os sons em Rio Claro (SP).

Com elementos sonoros que remetem às forças da natureza e manifestações dos homens, as faixas pretendem ser um canal para sensibilizar quem as ouve e, desta forma, gerar sentimentos de mudança.

OS ARTISTAS

Nicolau Centola é um artista sonoro com doutorado em arte no Instituto de Artes da Unesp. Suas produções exploram as relações entre paisagens sonoras, espaço e percepção. Participou de exposições em diversas cidades do Brasil e em Colônia (Alemanha), Londres (Inglaterra), Linz (Áustria) e Arad (Romênia).

Roger Marza faz improvisação livre ao sax alto com paisagens sonoras da natureza e da ciência. Lançou em 2021 os álbuns “Alma da Terra” e “Maritacas Flow”, este em parceria com Nicolau Centola; em março, o single “Praia do Sancho” com o coordenador da ONG Ocean Sound, Raul Rio Ribeiro; e no dia 10 de junho, o single “Sabedoria de Oxum” com o músico e professor de yoga Daniel Braga Lima. Apresentou-se em shows online no Instituto Damata e em aulas de yoga no Sesc Piracicaba e no Sesc Presidente Prudente.

William Hebling está para desventuras gráficas assim como para aventuras na arte. Formado em comunicação social e trabalha com fotografia, gravura, tipografia, caligrafia, video-documental e movelaria como suporte de suas instalações. Durante a pandemia aprendeu crochê com sua mãe. Participou de exposições no Brasil, em Cuba e Nova Iorque. Já foi premiado como artista, designer, publicitário e artesão.

André Borges é “um cara que tenta ganhar a vida honestamente, sem foder ninguém (a não ser que mereça)”. Pensa que a vida não é só trabalho e procura lidar com ela dessa maneira. Ama a música, as letras e quase tudo o que se faz com elas. 

Serviço:

Pré-save: https://tratore.ffm.to/caboclo-mariapadilhademontserrat

Site: https://sites.google.com/view/thewebsters/home


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