Gestão cooperativa na fábrica de tijolos
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A fábrica de tijolos e placas construtivas de solo-cimento, que está na fase final de testes e deve entrar em produção acelerada nos próximos meses, é um modelo da forma como a organização e a gestão dos trabalhos ocorre nos assentamentos e no acampamento. A proposta inicial, defendida por Victor Chinaglia e outros/as integrantes da Braço Forte, era a de trabalhar com placas leves e blocos de concreto, para dar suporte às famílias na construção ou reforma de suas casas.


Mas ocorreu, dentro da cooperativa, um movimento de trabalhadores/as em defesa da utilização da terra como matéria prima. Mas há, historicamente no Brasil, uma resistência a formas construtivas que saiam dos padrões tradicionais. Por isso, um outro grupo dentro da cooperativa, incluindo o próprio arquiteto, resistiram duramente a essa ideia. “Aí, pessoas da cooperativa e da comunidade vinham me mostrar fogão a lenha, vasilhas e blocos construídos com barro. Ou seja, com o argumento de que o uso da terra está bem ancorado na cultura construtiva do Brasil. Tivemos que abrir os olhos”, relata Chinaglia. Só que nem ele e nem os outros técnicos que apoiavam a cooperativa naquele momento tinham experiência com a terra e o solo-cimento. “O medo era que nos metêssemos nessa área desconhecida e que acabássemos fazendo alguma besteira, tendo casa trincada, essas coisas”, diz Chinaglia.


Diante disso, decidiram procurar e pedir auxílio a profissionais com conhecimento na área e encontraram dois arquitetos com especialidade no uso da terra, Marcos Tognon, da Unicamp e Valdemir Lucio, da Escola da Cidade. Tognon trabalha com preservação do patrimônio e diz que sempre se interessou em formas antigas de construção, motivo que o levou a aprender e trabalhar com a terra, material que ele considera “admirável”.


Valdemir tem uma longa experiência com o uso da terra e do solo-cimento, inclusive no “chão de fábrica” como diz, e estudou com uma das principais referenciais nacionais no uso desse material, o arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, conhecido como Lelé. “Aqui temos agora a oportunidade de integrar a questão da terra com a pré-fabricação leve e, mais do que isso, podemos fazer que a manufatura seja um processo de integração de trabalhadores e trabalhadoras. Que trabalhadores e trabalhadoras tenham os processos de produção e o controle econômico disso em suas mãos.”


A arquitetura de terra exige um conhecimento tecnológico e uma estrutura de análise, aos quais Tognon e Valdemir logo perceberam que a cooperativa não tinha acesso naquele momento. Assim, trouxeram também as arquitetas-urbanistas Jane Tassinari, que lecionava na época na Universidade São Francisco, e Denise Álvares Bittar, do Cotil (Colégio Técnico de Limeira) da Unicamp, ambas com ampla experiência em análise de materiais.


A análise do material é uma etapa essencial, que exige laboratórios especiais, para garantir a proporção exata dos diferentes tipos de terra na mistura com o cimento para dar segurança e qualidade final ao produto. As primeiras análises começaram a ser feitas em laboratórios da Universidade São Francisco, mas com o afastamento de Jane daquela universidade passaram a ser feitas em laboratório cedido pelo Cotil, onde são feitas até hoje.


Agora, já na etapa final de estudos e experimentos, a cooperativa começa arrecadar recursos para a compra de equipamentos que permitirão a fabricação de quatro mil tijolos por dia, além de placas construtivas de solo-cimento.

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