‘Estaleiro’ simboliza o amor de Roger pelo mar e por Yemanjá
Sons de mar de floresta foram gravados pelo músico em outubro de 2023 durante o primeiro Biomusic Festival
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Por Roger Marza


Um profundo amor pelo mar e pela simbologia e fé em Yemanjá. É assim que gosto de falar sobre “Estaleiro”, álbum que lancei no dia 2 de fevereiro, dia no qual se comemora essa Orixá. Distribuído pela Tratore para as plataformas digitais, esse álbum é como se fosse uma volta completa na espiral da vida: foi em janeiro de 2019, na Praia das Toninhas, que ouvi o ruído das lanchas no mar e pensei em escrever uma matéria sobre os estudos dos sons, que me levou para Bioacústica (que estuda o comportamento dos animais pelo som) e a Ecoacústica (estudo do som de todo um ambiente para se avaliar a biodiversidade).

Apesar de a ciência e o jornalismo me colocarem no caminho da chamada Biomúsica, música feita com sons da natureza, o processo de meditação para tocar no meu sax uma música livre tem influência em parte pela meditação no Yoga, mas principalmente na meditação com Orixás na Umbanda. Durante a pandemia, sem poder ir ao terreiro devido às restrições de contato, foram realizadas diversas giras on-line, nas quais meditávamos sob a influência deste ou daquele Orixá. E, como eu já tinha uma experiência anterior de tocar em meditação com tambores, tudo foi fluindo para “Alma da Terra”, meu primeiro disco, lançado em junho de 2021.


YEMANJÁ

Há quem diga que Yemanjá realmente existiu, não descarto essa possibilidade, e prefiro também me abster do debate sobre o embranquecimento da Orixá. Se, por um lado, a representação enquanto uma entidade negra é muito importante para combater o racismo, de outro lado a energia que ela emana é irrestrita a todo e qualquer ser humano. Ela representa a maternidade, a criatividade e, especialmente, é a quem cuida da saúde mental dos seus fiéis. E ela esteve comigo na pandemia, ajudando-me a equilibrar meus pensamentos nos momentos mais difíceis. De tal forma que a tatuei no braço!

E em outubro do ano passado, diante de um mar que eu não via desde 2019, agradeci profundamente à essa energia poderosa do mar e das ondas. Graveis sons das ondas, do encontro do rio com o mar, que é o Reino de Nanã e Oxum entrando em contato com Yemanjá, gravei sons da encosta da praia já com densa mata, ponto de energia de Oxóssi, e a floresta que há no Coletivo Neos, onde foi ocorreu o Biomusic Festival, que neste ano será realizado nos dias 27, 28 e 29 de setembro. Em janeiro de 2024 estive na Praia das Toninhas e fiz novas gravações, para lançar um single do projeto Rezo Tocando, com previsão de entrar nas plataformas de streaming em abril.

O álbum ganhou ainda mais significado porque completei 50 anos no dia 1º de fevereiro. As minhas apresentações podem parecer o show de um homem só com seu sax e sons de natureza, mas expressam todo o grande entrelaçamento de eventos, giras, cursos, amigos e familiares que colaboraram para que eu pudesse tocar. Não se faz nada sozinho e não há uma única só alma solitária no Universo, nunca estamos sozinhos, basta sentir. Como já dizia Constantin Stanislávski, no livro “Stanislávski e o Yoga”, de Serguei Tcherkásski, “sentir é o saber incorporado”.

Ouça o álbum em: https://tratore.ffm.to/RMZ7

Foto: Nide Costa

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