Câmara homenageia com medalhas lideranças sociais do Pós-Represa
Honraria foi concedida por atuação histórica no Milton Santos, Monte Verde e no mais recente Roseli Nunes
Compartilhe nas redes sociais

Jânio Carneiro de Freitas e Victor Chinaglia, duas das principais lideranças dos movimentos sociais da região do Pós-Represa, foram homenageados com medalhas de mérito “Herbert de Souza-Betinho”, em sessão solene realizada pela Câmara Municipal de Americana no dia 20 de junho, com o plenário completamente lotado como em raras ocasiões. A premiação foi extensiva, segundo os próprios homenageados, às mais de três mil famílias e aos demais dirigentes dos assentamentos Monte Verde e Milton Santos e do acampamento Roseli Nunes, área onde a atuação deles foi o objeto da concessão do título pela Câmara Municipal

A proposta da homenagem foi motivada por decreto do vereador da 17ª legislatura Odair Dias, em 2020, mas as cerimônias de entrega dos títulos foram suspensas durante a pandemia e retomadas agora. A medalha “Herbert de Souza – Betinho” foi instituída em 2008 pela Câmara de Americana e é concedida a pessoas, grupos e entidades que tenham se destacado na área de ação social e mobilização popular.

Os dois homenageados dirigem a iAcia (Instituto Pós-Represa), às margens da Represa Salto Grande, na divisa com os municípios de Paulínia e Cosmópolis. A iAcia, com mais de duas mil pessoas inscritas, implantou e dirige três instrumentos de gestão e trabalho da comunidade da região: a Escola Livre e Espaço Sérgio Ferro e as cooperativas Braço Forte e A Camponesa. Os dois são dirigentes também da Frente dos Movimentos de Luta pela Terra.

“Uma noite de alegria e prazer por estarmos aqui homenageando pessoas que fazem o bem para a sociedade atual e as futuras gerações, muitas delas se dedicam mais aos outros do que a si mesmas. Estamos essa noite reverenciando o legado que está sendo deixado em prol do desenvolvimento social da cidade de Americana, e por isso parabenizo o Victor e o Jânio”, disse o autor do decreto de homenagem, Odair Dias. 

O prefeito Chico Sardelli não pode comparecer à cerimônia por problemas de agenda, mas enviou um vídeo parabenizando os homenageados e com um breve relato sobre o trabalho das comunidades no Pós-Represa. “Os dois realizam um importante trabalho pela moradia em Campinas”, ressaltou Chico.

Jânio de Oliveira agradeceu o empenho das comunidades que atuam na luta pelo direito à moradia. “Nós ficamos muito felizes com essa homenagem, e tenho certeza que ainda teremos muitas noites de vitórias. É com muita felicidade que vemos nossos companheiros presentes aqui na Câmara hoje, agradeço aos vereadores pela indicação”, observou.

O trabalho social para garantir dignidade na área de habitação foi destacado por Victor Chinaglia. “Quero agradecer à família Roseli Nunes e a todos os vereadores que estão aqui presentes. Vocês não imaginam a importância dessa medalha para a nossa luta, que vem sendo travada há dezoito anos. Como arquiteto eu tenho a obrigação social de atuar no sentido de resolver a questão das moradias, ainda mais sendo uma medalha que leva o nome de Herbert de Souza, uma honra”, discursou Chinaglia.


OS HOMENAGEADOS

“Jânio Carneiro de Oliveira e Victor Chinaglia tiveram suas origens em dois países diferentes, um no Brasil agrário e outro no urbano, mas com contradições, violência de classe e tradições de resistência do povo brasileiro, camponês ou operário”, relata o vídeo de apresentação dos homenageados durante a sessão solene.

Jânio Carneiro de Oliveira é natural de Paratinga/BA. Entrou aos 14 anos na luta pela terra em Bom Jesus da Lapa e em Serra do Ramalho na Bahia em movimentos camponeses espontâneos do sertão baiano, em companhia de seu pai e irmãos. Ainda muito jovem foi trabalhar nas barcas cargueiras no rio São Francisco e atuou à frente das ações de deslocamento de milhares de camponeses para agrovilas, formando um núcleo de 64 mil habitantes que mais tarde virou cidade Serra do Ramalho- BA. Desde então atuou em movimentos de luta pela terra e por moradia em várias regiões. Já adulto, mudou-se para São Paulo, ingressou no MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) e veio para a região de Campinas, onde finalmente fixou-se em Americana, junto a movimentos de luta pela terra que tomavam vulto naquele momento, a partir do assentamento Milton Santos. Esteve na origem das lutas que deram origem ao Monte Verde e ao Roseli Nunes e é reconhecido até hoje como uma das principais lideranças da região. 

Victor Chinaglia nasceu em São Paulo no ano de 1967 em plena ditadura militar, em uma família de militantes políticos que foram presos e torturados. Fato, diz ele, que o influenciou decisivamente em sua formação ideológica. Formado em arquitetura e urbanismo na PUC de Campinas em 1990, militou no movimento estudantil, no PCB (Partido Comunista Brasileiro) e no PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Como dirigente do PCdoB veio para Americana para presidir o comitê municipal do partido e atuou em várias frentes. Como arquiteto-urbanista trabalhou na prefeitura e chegou a assumir a Secretaria Municipal de Planejamento e, posteriormente, a do Meio Ambiente. Foi diretor-regional e hoje conselheiro do CAU/SP (Conselho de Arquitetura e Urbanismo). Sempre atuou junto aos movimentos de moradia e de luta pela terra em várias cidades paulistas. Atua ao lado das comunidades do Pós-Represa desde os primeiros tempos de sua chegada em Americana.

Powered by Froala Editor